"Vou falá de umas pessoas, de umas coisas..."

"Vou falá de umas pessoas, de umas coisas..."
"Êta Tijucona véia de guerra!"

Mostragem, agora por ordem alfabética, de passagens de minha vida, narradas sob a minha ótica e com total sinceridade, e que envolvem primeiramente pessoas que me acrescentaram algo, depois instituições em que labutei e, por fim, locais que me marcaram.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

vivencias-madeira-alfabética(pessoas:J)



J:João Dias Pereira:Seu João Dias,meu pai.A primeira pessoa a marcar esta minha encarnação.Um simples pastor português,nascido na fronteira de Portugal com a Espanha,na província de Trás-os-Montes,no lugarejo chamado Telhado(estive lá várias vezes em 1950,quando morei em Portugal,durante um ano),localidades que como os nomes já indicam estão situadas,em regiões montanhosas,inóspitas.Vida fronteiriça,na parte mais alta e fria da lusa terra,com pouca área livre para plantação,só dava mesmo para a de subsistência,a atividade econômica era a pecuária de animais montanhosos e com resistência à friagem intensa.Cabras e ovelhas eram a dominância.Vegetação pouca,muita pedra,àrvores típicas,como o castanheiro(que nos remetem a famosa castanha portuguêsa de natal),o sobreiro(da qual se retira a cortiça) e a oliveira(que nos dá a inigualável azeitona portuguêsa e o azeite).Meu pai desde os dez anos trabalhava como pastor de cabras e ovelhas saindo com elas para as montanhas,no frio,com sua merenda,ainda de madrugada,voltando ao entardecer,ofício aprendido com os irmãos mais velhos e depois realizado sozinho.O grande medo,quando ainda não estava bem claro,eram os lobos e por isso o fogo feito próximo aos lugares onde os animais pastavam,ajudava a combater o frio e a afugentá-los,restando apenas os uivos.Os irmãos,todos(acho que quatro),logo que faziam quinze anos(idade mínima então),arranjavam um documento de imigração portuguêsa para o Brasil(denominada carta de chamada,que significava que um outro conterrâneo,aqui residente ia recebê-lo,hospedá-lo e dar-lhe trabalho)e"fugiam"para cá,apenas sabendo ler,escrever e as quatro operações.Meu pai,nessa idade,foi chamado por um irmão,meu Tio Antonio,que aqui estava e veio,em um navio de imigantes,aportando na Praça Mauá.Ao procurar emprêgo conseguiu em uma Padaria,de início em troca de lugar para dormir e comida.Como era trabalhador e safo logo foi contratado e fez carreira no ramo da panificação,chegando a dono de padaria.Íntegro,trabalhador,leal,honesto,dono de uma garra incomensurável(nunca estava cansado ou algo não podia),inteligente,apesar de pouco letrado,leitor incansável(diariamente lia,pelas manhãs,o Diário Carioca(não mais existe)e a noite o Globo,conversava e discutia com conhecimento os assuntos diuturnos.Administrou seu viver,nossa família,seus negócios com sabedoria e amor.Educou-me com algumas surras merecidas,com firmeza e muito,mas mais com exemplos,o que rememoro e agradeço a toda hora.Exemplos de coragem pessoal,de bravura perante os óbices,de correção total de comportamentos,de honestidade,acima de tudo de propósitos de vida,de amizade de entrega,de amor ao próximo,de caridade equilibrada,ajudando sempre a todos,mas verificando a verdade da necessidade,enfim meu pai e meu mestre.Auxiliou-me na infância e na adolescência pela educação e pelo exemplo,com orientações claras,precisas e continuou a amparar-me com a presença e o amor firmes,sem fraquezas,até a passagem,com quase 88 anos.Muito obrigado meu Pai,foste a primeira pessoa a marcar e de forma indelével esta minha vivência e espero que à frente,aqui ou Lá,possas continuar com tua sabedoria a mostrar-me o caminho correto para o progresso moral continuado.Valeu seu Dias,meu Pai.Theo

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